Meu Filho, Meu Tesouro

CIDADÃO DE BEM OU PÁRIA DA SOCIEDADE?

Vivemos em um mundo globalizado, em que mudanças ocorrem literalmente à velocidade da luz, enquanto características físico-biológicas e sociais do ser humano continuam as mesmas. Temos que aprender a lidar com essas mudanças para sermos “vencedores” na vida, aqueles que superaram as tentações nefastas que a modernidade, focada em valores materiais e no consumismo desenfreado, nos coloca no caminho.

Esse processo de inserção positiva na sociedade inicia-se na infância. Tem os pais como
protagonistas. Eles precisam formar seus filhos de forma legítima e não autoritária, para evitar a alienação social destes, ajudando-os a se tornarem pessoas de bem e não párias da sociedade, como contraventores, corruptos, criminosos, drogados, ou alcoólatras. Trata-se de treiná-los para a vida, moral e eticamente, pois a formação técnica e profissional virá com a escolarização.

Uma tarefa hercúlea, que um número considerável de pais não consegue realizar e que, portanto, suscita a pergunta: o que esta tarefa exige deles? Exige que, como pais, compartilhemos responsabilidade com os filhos, sem abrir mão das decisões finais, que nos cabem enquanto responsáveis legais pelos filhos. É preciso desenvolvê-los respeitando suas necessidades individuais, sua autoestima e sua dignidade. Trata-se de ensinar-lhes a negociar suas demandas, apresentar argumentos para justificar suas vontades e aprender a respeitar e acatar os contra-argumentos dos
pais quando ocorrer o impasse de opiniões, tornando-se necessário aplicar a hierarquia como fator desempatador.

Faço uma analogia com negociações entre patrões e empregados, no contexto de acordos trabalhistas/sindicais. Na maioria das situações, as partes precisam fazer concessões para alcançar o denominador comum. O mesmo processo democrático deve ocorrer dentro do lar. Uma decisão negociada e não imposta autoritariamente pelos pais tem grande chance de ser respeitada e implantada. Ela evita a rebeldia e a desobediência dos filhos e, em casos extremos, o abandono do lar por eles, para viverem, quiçá como moradores de rua, a luta pela sobrevivência.

Cabe aos pais tratar os filhos como iguais, diplomaticamente dizendo-lhes o que esperam deles, fazendo-lhes exigências realistas, mas razoáveis, que precisam saber explicar e justificar racionalmente. Quando ocorrerem impasses, o respeito à autoridade parental deve ser exigido de forma afetiva, mas enfática. Isso chama-se “autoridade benevolente”, que os filhos saberão respeitar se tiverem sido tratados com dignidade. A tarefa exige também que os pais deem o bom exemplo aos filhos. Procedendo assim, estarão contribuindo para a harmonia em família e a formação de cidadãos de bem. A sociedade haverá de agradecer porque será mais humana, justa e igualitária, com a psicanálise de pais e filhos constituindo valioso instrumento auxiliar nesse processo.