FANATISMO – AMEAÇA À PAZ SOCIAL

“O fanatismo é a única saída para as dúvidas que não cessam de provocar a alma do ser humano.”

Paulo Coelho, em seu livro “O Zahir”.

 

A condução sob coerção do cidadão Lula da Silva para prestar esclarecimentos à Justiça transformou o fato em espetáculo mediático e os jornais televisivos mostraram a milhões de brasileiros, e ao mundo todo, que não há consenso de opiniões nem a favor e nem contra o ex-presidente do Brasil. Ocorreram confrontos entre cidadãos de opiniões divergentes, com moderada violência em várias cidades brasileiras e houve agressões a representantes da mídia. Essa situação ensejou que o Alto Comando do Exército se posicionasse com relação ao papel que poderá ter de cumprir para garantir a ordem social, à medida que os ânimos e as expectativas quanto ao desfecho da chamada “Operação Lava Jato” venham a escalonar. A convocação dos cidadãos nas redes sociais para se manifestarem contra “tudo isso que está aí”, no próximo dia 13 de março, poderá servir de palco para um embate entre fanáticos em campos opostos.

Na história da humanidade, o fanatismo religioso, político, étnico, ou simplesmente competitivo, contabiliza centenas de milhões de vítimas – o resultado de duelos entre indivíduos ou de conflitos entre grupos, culminando em guerras, genocídios, extermínios, expurgos e disputas de toda ordem, ainda que manifestos em mera briga de torcidas esportivas.

O fanático, ou seja, o fã extremado, é antes de tudo um narcisista, que busca escapar de sua solidão psíquica elegendo uma causa por objetivo, à qual possa se dedicar radicalmente. Quando consegue socializar na busca dessa causa integra-se às hordas de fanáticos em movimentos sociais como o nazismo, o comunismo, as legiões de combatentes do Estado Islâmico, as agremiações políticas de viés ideológico totalitário, ou tornando-se um guerreiro, e, às vezes, um mártir em alguma “guerra de fé”.

O fanático é teimoso, obstinado, dogmático, que nega a realidade objetiva. Despreza a tolerância e a divergência de opinião, que vê como fraqueza, resignação ou submissão. Exercer a intelectualidade para que resulte no respeito à opinião divergente é inaceitável para o fanático. Não sabe negociar um compromisso. Para ele, tudo é branco ou preto, desgraça ou dádiva, amigo ou inimigo. Não existe nada entre os extremos. O fanático é imune a dúvidas e não sofre de hesitação. Nunca se depara com problemas difíceis porque a solução é um decreto governamental ou a bala de uma arma de fogo. O fanático se impõe pela força e se interessa apenas pelo resultado e não pelo caminho para alcançá-lo. Está disposto a pagar qualquer preço para atingir o seu objetivo, embora prefira que “os outros” paguem esse preço.

À sociedade cabe defender-se dos fanáticos, mas só existe uma maneira de fazê-lo: é combatendo a costumeira indiferença diante das ações empreendidas pelos fanáticos. Isso se consegue através da Educação, do esclarecimento, do exercício pleno da cidadania e do senso crítico, recorrendo à memória para aprender as lições que a História nos ensina. Tarefa árdua, permanente e de sucesso duvidoso, infelizmente.

Eu gostaria muito que a solução da crise política brasileira ocorresse sem o confronto de cidadãos em nível de fanatismo e de radicalizações.