Até que a Vida nos Separe

O casamento é a relação mais gratificante e ao mesmo tempo mais desafiadora de nossas vidas. A união matrimonial sempre é um reflexo de como foi a relação com os nossos pais, especificamente com a mãe na primeira infância, quando a criança se sente como fazendo parte da mãe. Posteriormente, a criança descobre que tem uma identidade própria, passa a viver a “sua” vida separadamente da existência da mãe.

No casamento ocorre um processo semelhante. O casal vive inicialmente uma fase de intensa união. Sente-se como sendo uma entidade só, unido pelo amor, pela atração física e mental, pelo respeito e carinho mútuos. Planeja e executa sua vida a dois de comum acordo. Prevalece um equilíbrio na relação. O desafio do casamento está em manter esse equilíbrio ao longo do tempo e, simultaneamente, dar espaço à individualidade dos consortes.

É aí que se inicia a segunda de cinco fases do casamento. O casal se conscientiza de que é formado de duas pessoas e não uma. Os consortes vivem suas primeiras divergências e já não há consenso em tudo que fazem. Tornam-se conscientes daquilo que incomoda no parceiro ou parceira. Os hábitos do outro podem ser motivo de irritação. Ocorrem divergências quanto à maneira de viver, de gastar a renda, sobre ter filhos e quantos ter, e quanto à educação a ser proporcionada à prole. Às vezes, os filhos se tornam fator de desestabilização do casal, mormente quando passa a ocorrer uma disputa por afeto entre um filho e a mãe ou o pai, ou quando o casamento abriga filho de união conjugal anterior. É comum haver uma relação de poder, em que frequentemente o homem é o elemento dominante, principalmente nas sociedades patriarcais. Ocorre a rotina do cotidiano e expectativas de realização individual se frustram quando não são apoiadas pelo companheiro ou companheira. Pode surgir o ciúme. Na maioria dos casos, é nessa fase que começa a monotonia e a apatia sexuais e o despertar da curiosidade de viver experiência fora do casamento.

Inicia-se a terceira fase. Objetivos profissionais e sociais (a busca da realização individual, o sucesso material e econômico e as amizades de interesse) tornam-se a prioridade em graus diferentes para um e outro, até sobrepondo-se aos interesses comuns, principalmente quando a realização da mulher se limita ao universo do lar, enquanto o homem tem a sua vida independente no “mundo externo”. O casal se aliena. Prevalece o desequilíbrio e a discórdia. Pode ocorrer a violência doméstica.

A quarta fase se caracteriza pelo saudosismo. Pelo menos um dos consortes se dá conta de que sente saudade daquela fase inicial de encantamento, harmonia e empatia. Passa a achar que perdeu o amor que havia, sente saudade e tenta se reaproximar para resgatar aquela situação de tão doce lembrança. Tem a noção de que a experiência da individualidade pode servir para reconstruir a comunalidade do casal. Quando logra êxito, o casal estabelece novo patamar de equilíbrio e inicia-se a quinta fase- o casal repactua as bases de sua convivência. 
A vida segue, com novas regras estabelecidas. A relação novamente se equilibra e o processo se perpetua, contanto que não haja o rompimento, que, na verdade, pode ocorrer em qualquer das fases.

A terapia de casal com viés psicanalítico é um importante instrumento que pode ajudar casais a resgatarem a felicidade conjugal.