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Liga, Desliga

Somos os donos do nosso destino, de nossa felicidade. Quando aprendemos a analisar os nossos pensamentos, transformando-os de predominantemente inconscientes em conscientes, conseguimos planejar o nosso comportamento, mudando-o em conformidade com a nossa força de vontade racional.

Esse viver conscientemente permite que a nossa racionalidade se imponha à nossa emocionalidade e, por consequência disso, que a qualidade de nossa vida melhore, porque deixamos de nos sujeitar passivamente a influências externas, que muitas vezes preferiríamos que não houvesse, e das quais não sabemos nos defender. Passamos a questionar essas influências, a analisá-las, aceitá-las ou rejeitá-las. O critério de ligar ou desligar o “botão de decidir” sobre qual rumo tomar em nossa vida passa, então, para o nosso domínio.

Passamos a ser o autor da peça teatral que, por analogia, é a nossa vida. Definimos o papel que queremos desempenhar e planejamos até nos mínimos detalhes o comportamento que queremos ter na vida.

Em recente conversa com um médico conhecido meu, perguntei-lhe como ele fazia para ligar/desligar o “botão da atividade médica”, para que a negatividade de conviver diariamente com o sofrimento humano e até com o fenômeno da morte inevitável não contaminasse a “normalidade emocional” de seu estado de espírito.

A resposta dele foi: “o meu ‘botão de liga/desliga’ é o meu jaleco. Ao sair do trabalho, tiro-o e deixo-o no carro. Não entro em casa usando-o. É como se eu tivesse duas identidades; a de médico e a de cidadão comum. Quando visto o jaleco, ligo o botão na opção médico. Desligo-o quando tiro o jaleco.”

Precisamos descobrir o nosso “jaleco”, o instrumento que nos permite a imunização contra a negatividade que nos incomoda, ou contra as emoções que nos impedem de viver a vida racionalmente, com qualidade, e em estado de felicidade.

 

Retrospectiva e Perspectiva

Dezembro é o mês da reflexão. Costumamos elaborar um balanço de como foi o ano que finda e traçar planos para o ano novo que se aproxima. Em tempos normais, retrospectiva e perspectiva são positivas, porque quando a nação vive um período de “normalidade” a economia cresce e a maioria da população tem motivos para estar satisfeita com as conquistas alcançadas e otimista em relação ao futuro.

A reflexão que faremos em 2015 será diferente, porque esse ano constituirá um divisor de águas na história do Brasil. A nação brasileira, em sua quase totalidade, terá se dado conta de ter sido vítima de sistemático e institucionalizado assalto bilionário ao patrimônio público e do ilusionismo político que, juntamente com políticas governamentais equivocadas, destruíram a economia, causaram o desemprego em massa, trouxeram a desesperança diante da falência moral da nação, e ainda resultaram na polarização da sociedade, contrastando o “nós” contra “eles”, sendo “eles” a maioria do povo que agora deverá arcar com os custos da incompetência governamental e do festival de ilegalidades constatadas em todas as áreas que se ousou investigar.

Pior do que encarar a retrospectiva tão nefasta é não ter uma perspectiva alentadora para o futuro próximo. Quem se apresenta como líder para conduzir a nação na busca da moralidade, do crescimento, da justiça social, enfim, do bem-estar e da esperança? O estado de espírito da nação nesse fim do ano 2015 é de depressão psíquica coletiva, inclusive porque esse líder não é atualmente identificado.

A pergunta que os brasileiros devem se fazer é como proceder para não sucumbir diante do desencantamento que se abate sobre a sociedade. Ofereço uma sugestão que talvez atenue a incerteza. É preciso fazer uma reflexão consciente e sistemática ao nível individual. É preciso perguntar-nos, por exemplo:

- Quais foram os eventos mais significativos em 2015?

- O que aprendi em termos de conhecimentos ou habilidades?

- O que realizei, total ou parcialmente? No que fracassei?

- O que agreguei em termos de experiência de vida?

- Como o ano afetou a qualidade de minha vida?

Concluída a análise do ano que se encerra, devemos planejar o ano novo, definindo objetivos e estratégias após identificar os cenários possíveis a partir da avaliação das probabilidades associadas.

Precisamos também planejar a nossa conduta pessoal e nos perguntar qual papel queremos desempenhar no palco da nossa vida. Cabe-nos escrever o “script” do personagem que queremos ser na peça teatral que é a nossa vida. Trata-se de deixar de viver “ao Deus dará” e domar as nossas emoções através da racionalidade, visando a viver “conscientemente” e mais felizes e em harmonia conosco mesmos. Deveremos também reavaliar o nosso papel individual em relação à coletividade, precisamente para que a sociedade seja proativa e não se torne vítima fácil de desmandos de seus governantes.

Expresso aos leitores meus sinceros votos de um 2016 melhor do que 2015.

A Jarra da Vida

Às vezes, deparamo-nos com algo que chama a nossa atenção por sua relevância ou sua simbologia. Ao navegar pela internet, encontrei uma história, de autoria desconhecida, que, a meu ver, é relevante como perspectiva para olharmos a vida.

Era uma vez um professor de filosofia, que pretendeu dar aos seus alunos uma lição de vida. Colocou sobre a mesa uma grande jarra vazia de vidro transparente. Em seguida, retirou bolas de golfe de uma sacola e colocou-as, uma após a outra, na jarra, até enchê-la completamente. Então, perguntou aos estudantes se a jarra estava cheia. Ninguém duvidou que estivesse. 

Então, o professor tirou de debaixo de sua mesa uma caixa contendo pequenas pedrinhas e colocou-as na jarra, sacudindo-a para permitir que as pedrinhas ocupassem os espaços entre as bolas de golfe. Quando terminou, perguntou aos estudantes se a jarra estava cheia. Novamente, ninguém duvidou que a jarra estivesse cheia.

Dando continuidade ao experimento, o professor apanhou um recipiente contendo areia e despejou o material na jarra, sacudindo-a para que a areia ocupasse os espaços entre as bolas de golfe e as pedrinhas. Aí, novamente perguntou se havia quem discordasse que a jarra estivesse totalmente cheia. Não havia quem discordasse, embora o semblante dos estudantes já mostrasse uma expressão de incerteza quanto à resposta certa.

Finalmente, o professor apanhou duas latas de cerveja, abriu-as e despejou o conteúdo na jarra.

A seguir, disse aos estudantes: As bolas de golfe representam aquilo que é essencial em nossas vidas - a família, os filhos, os amigos, a saúde, os nossos valores éticos e morais, e as nossas paixões. Ainda que não tivéssemos nada na vida a não ser o que as bolas de golfe representam, teríamos uma vida plena porque seria vivida em sua essência.

O professor continuou, dizendo: As pedrinhas representam outras coisas na vida que são importantes, mas não são essenciais - o nosso trabalho ou emprego, a nossa moradia, ou os bens materiais que nos dão conforto de viver.

Finalmente, observou: A areia é todo o resto que compõe a nossa vida. São as “coisas” pequenas, insignificantes. No entanto, o professor chamou a atenção para um detalhe: se colocarmos a areia na jarra antes das bolas de golfe e das pedrinhas, não haverá espaço para colocarmos em nossa vida o que é essencial e importante.

O professor, então, deu a aula por encerrada, mas uma estudante se manifestou e lhe perguntou: professor, por que o senhor despejou as duas cervejas na jarra? Disse o professor: porque é preciso encontrar tempo na vida para tomar uma cerveja com um amigo.

Moral da história: a nossa felicidade depende somente de nós mesmos, das prioridades que estabelecermos e respeitarmos quando de sua execução.

 

Publicado no Boletim Mensal da Academia Juvenil de Letras de Itajubá, MG, edição de NOVEMBRO de 2015. 

QUEM SOU EU?

Sou um indivíduo entre 7 bilhões e 300 milhões de pessoas que compõem a população humana na Terra em 2015. A espécie humana é uma entre 8,7 milhões de espécies de seres vivos catalogadas pela Ciência. A Terra é um entre 8 planetas conhecidos, orbitando em torno do “nosso” sol, que é meramente uma estrela entre outras 100 bilhões identificadas em “nossa” galáxia, a Via Láctea, que é apenas uma entre 225 bilhões de galáxias “visíveis” aos telescópios, satélites e sondas espaciais dos humanos. É esse o nosso mundo cósmico, verdadeiro “multiverso”, cuja dimensão conhecida é de 13,8 bilhões de anos luz, mas que continua sua expansão rumo ao infinito. Quem sou eu diante dessas inimagináveis magnitudes cósmicas?   

Como todos os indivíduos da espécie humana, sou um narcisista. Gosto primeiramente de mim mesmo. Eu me adoro e quero que todos saibam que eu sou “o cara”: sou bom, sou inteligente, sou bonito, sou capaz. Eu tudo posso, desde que eu acredite em mim e minha autoestima esteja em alta. Depois de mim, em posições subsequentes na classificação da escala da paixão, aparecem minha consorte, meus filhos, meus netos, meus pais, meus irmãos, demais parentes, meus amigos, meus colegas, e todas as pessoas cuja trajetória de vida cruze com a minha. A ordem de preferência emocional das pessoas com quem convivo variou nas diversas etapas de minha vida. A preferência terá sido de meus pais quando eu era criança. Hoje, já é outra, e amanhã poderá mudar novamente.

Vivo em busca da felicidade, o objetivo primordial da humanidade. No plano material, desejo possuir bens que me proporcionem conforto e me deem segurança para enfrentar imprevistos como adoecer, ou precisar arcar com ônus circunstanciais que resultam da vida em sociedade. Não preciso cometer nenhum crime ou me corromper para acumular fortuna à custa da sociedade. Orgulho-me de ter uma “ficha limpa”. No plano espiritual, busco a harmonia, a paz de espírito. Tenho valores morais e éticos que procuro aplicar. Tento não ofender ou prejudicar quem quer que seja. Não tenho a resposta à pergunta milenar dos seres humanos: o que nos acontece quando morremos? Existem pessoas que não sabem o que nos acontece após a morte. Incluo-me em outra categoria: a das pessoas que pensam que sabem, mas não têm certeza. Isso molda minhas crenças, que ditam meu comportamento em relação ao que chamamos de Deus e à teoria religiosa que me parece a mais plausível e coerente com minha visão do mundo.

A experiência de vida me tornou mais pragmático, mais tolerante, menos beligerante e menos intransigente. Exerço uma profissão que visa a ajudar as pessoas na busca de sua felicidade, na resolução de sua angústia e ansiedade de viver, na compreensão de seu eu interior, e no processo da mudança comportamental que ocorre ao longo de nossa jornada na Terra.

Em conclusão: sou uma nano partícula cósmica, mas tenho uma dimensão espiritual individual imensurável. O que preciso é viver a vida na plenitude possível para alcançar a felicidade que almejo.

Artigo publicado no Boletim da Academia Juvenil de Letras de Itajubá, edição de outubro de 2015.

A leitura é imprescindível

“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história”.

Bill Gates – Fundador da Microsoft

Segundo dados oficiais de 2014, 8,3% da população brasileira com idade superior a 15 anos são pessoas analfabetas. A categoria das pessoas ditas analfabetas funcionais (as que têm até quatro anos de estudo e limitada capacidade de compreensão e expressão de conteúdos escritos e verbais) somava 17,8% dos brasileiros. Na somatória, temos a triste realidade de que aproximadamente um quinto dos brasileiros é composto de iletrados que, pela falta de familiaridade com livros, revistas e periódicos, não reúnem condições de usufruir do desenvolvimento humano proporcionado pela leitura.

Uma pesquisa realizada no início de 2015 pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro mostrou que 70% dos brasileiros não leram um livro sequer em 2014. Aliás, o número de leitores vem diminuindo. Em 2014, a queda foi de 5% em comparação com 2013. Observa-se, ainda, o significado sociopolítico dessa realidade: a defasagem entre leitores e não leitores reproduz a divisão social entre a classe dominante e a massa de excluídos cognitivos, permitindo, inclusive, que a primeira manipule a segunda. Isso resulta na baixa qualidade da representação política no país, o que abre as portas para desmandos de toda ordem, inclusive para a gigantesca corrupção endêmica e o assalto sistêmico ao erário público. 

Mas, por que no Brasil se lê tão pouco?

A política de alfabetização do governo ocorre apenas há mais ou menos 70 anos. O país tem na transmissão oral do saber e da cultura populares, de geração em geração, sua tradição mais forte. Outro impedimento ao hábito da leitura está na realidade socioeconômica do país: largos contingentes da população não têm acesso a livros, sejam comprados ou disponíveis no insignificante número de bibliotecas públicas existentes, muitas das quais mal dotadas de obras literárias. Grande número das escolas, tanto públicas quanto privadas, sequer dispõe de biblioteca. Seria o caso de implantar o projeto da Pátria Educadora para que fosse uma realidade e não mera frase de efeito promocional e de finalidade eleitoreira. Outro fator impeditivo do hábito da leitura no Brasil, principalmente entre os jovens, é a própria era digital em que vivemos. A leitura se concentra em textos transmitidos através da mídia digital, por meio de telefones celulares, tablets e computadores. São textos que predominantemente se caracterizam pela simplicidade e pela síntese de ideias expressas em palavras abreviadas. São mensagens meramente informativas, que não estimulam a reflexão e a imaginação. A prática da leitura concorre ainda com a televisão, uma mídia ao alcance de todo o povo brasileiro. O hábito de assistir à TV leva vantagem sobre outros hábitos porque permite aos espectadores entregarem-se ao ócio passivo total. Ler um livro exige concentração e concentrar-se pode causar fadiga.

O gosto pela leitura é função da idade, do meio social e do interesse individual das pessoas quanto ao gênero do texto lido. O hábito da leitura não ocorre por autogeração. Uma criança precisa ser ensinada a ler. Inicialmente, os pais devem ler histórias para os filhos quando se deitam para uma noite de sono. As histórias de ninar são o estímulo inicial à fantasia das crianças. Logo que possível, devemos passar à fase seguinte, mostrando às crianças livros com vários desenhos ou gravuras e com letras grandes, para que possam associar essas imagens ao significado das letras combinadas para formar as palavras. Na medida em que ocorre o desenvolvimento mental das crianças, a configuração dos livros deve mudar em termos do espaçamento entre as linhas de texto, do tamanho das figuras e das letras das palavras.

Esse processo de ensino deveria ter continuidade quando da alfabetização das crianças na escola.  Elas reproduzem o som que ouvem para escrever, isto é, escrevem inicialmente como ouvem. Quanto maior o seu contato com materiais escritos, maior será sua bagagem de conhecimento. Cabe ao professor na escola treinar o hábito de ler, e depois, de escrever.

Afirmo que a prática da leitura é imprescindível. Mas por quê? Há várias razões. A leitura ensina as pessoas como é o mundo em que vivem. Aprendem sobre pessoas, lugares e eventos novos, alheios à sua realidade cotidiana. Ficam expostos a modos diferentes de viver e de encarar a vida. A leitura desenvolve a imaginação e o raciocínio, aumenta o acervo de vocabulário dos leitores, o que se manifesta subsequentemente na maneira de falar e na qualidade da oratória e da dicção. Há evidências concretas de que as pessoas que leem mais têm melhor desempenho escolar, acadêmico e profissional. A habilidade de ler abre aos leitores multilíngues acesso irrestrito ao acervo cultural e informativo do mundo inteiro. A leitura aumenta a capacidade de estabelecer empatia com outras pessoas porque quando se lê um romance, por exemplo, o leitor poderá se identificar psicologicamente com algum personagem da história, inconscientemente praticando sua capacidade de socializar. Finalmente, saliento que a leitura é uma gratificante forma de lazer, que proporciona paz de espírito e relaxa o corpo.

A Academia Juvenil de Letras de Itajubá congrega jovens de 15 a 25 anos de idade, criteriosamente selecionados para constituírem uma elite cultural que eventualmente comporá o quadro de acadêmicos da Academia Itajubense de Letras, uma instituição que visa a contribuir para o mundo literário e cultural de Itajubá e cidades vizinhas.

 

NO COMPASSO DA VIDA

Oliver nasceu ao meio dia de um sábado de junho de 2015. O mais jovem dos meus três netos, ele é, evidentemente, o mais jovem também do meu núcleo familiar mais imediato. Na outra extremidade, vive o mais velho membro de minha família. É o meu pai e o bisavô de Oliver, cujo nome em bom português é Guilherme. Ele está com 94 anos, mas sofre da senilidade que, para alguns, vem com idade tão avançada e que tanto me choca quando me lembro da época em que se encontrava no auge do vigor físico e mental e era minha principal referência moral. Contrastando essas duas vidas configura-se para mim o implacável desenrolar da vida: o vir, o estar, e o desaparecer.

As instituições humanas passam pelo mesmo processo: são criadas, se desenvolvem, e em algum momento, desaparecem. A organização humana mais longeva da atualidade é a Igreja Católica, que soube se reinventar ao longo dos 20 séculos da era cristã. A quase totalidade das organizações empresariais surgidas a partir do fim do século 19 já não mais existe. A vida média de uma empresa na moderna economia capitalista do mundo é de 70 anos. Existem exceções: a Stora Kopparberg da Suécia, a mais antiga organização comercial e industrial do mundo, foi fundada mais de 200 anos antes do descobrimento da América, seguida pelo Grupo Sumitomo do Japão, que já tem mais de 700 anos.

A Academia Juvenil de Letras de Itajubá está em festa: comemora sua existência, de fundação tão recente, existindo em paralelo à Academia Itajubense de Letras. Para estar em sintonia com o compasso da vida, não se haverá de integrar os jovens da AJULI à instituição já existente, no processo natural de renovação que ocorre pela substituição das gerações? Afinal, o Oliver de hoje haverá de ser o Guilherme de amanhã.      

 

Publicado no Boletim Mensal da Academia Juvenil de Letras de Itajubá, MG. Edição de junho de 2015.

“...o preconceito nosso de cada dia nos tirai hoje...”

Poderíamos rezar a oração hipotética pertinente para pedir à Força Divina que nos livre do preconceito que vivemos cotidianamente.

Ter preconceito é inato ao ser humano. É definido como atitude injusta, intolerante e potencialmente danosa quando convertida em ação discriminatória em relação a um indivíduo ou grupo de indivíduos. Muitas vezes, o preconceito é inconsciente e como parcela considerável da humanidade vive “ao Deus dará”, não usando o cérebro para raciocinar autonomamente, muitas pessoas se deixam levar por movimentos sociais discriminatórios e até irracionalmente fanáticos.

O preconceito é o prejulgamento de semelhante nosso porquanto ser humano, que, no entanto, é diferente de nós por possuir características reais ou imaginárias que rejeitamos, baseado em algum estereótipo social. Um estereótipo é definido como generalização de características existentes. Por exemplo, poderíamos dizer: “não gosto de políticos porque são desonestos”. A desonestidade é, então, o estereótipo social que passamos a aceitar como verdadeiro, internalizando-o como preconceito. Outro exemplo é a homofobia, a rejeição de pessoas com orientação sexual diferente daquela da maioria da população, ou ainda, de pessoas em razão de seu país de origem, cor de pele, fé religiosa, ou qualquer outro critério.

O preconceito transformado em ação social discriminatório pode resultar, e tem resultado, nas maiores barbaridades cometidas pelos seres humanos, figurando aí o chamado holocausto, o sistemático extermínio de um grupo social/religioso/étnico durante a 2ª Guerra Mundial, ou a subjugação cultural e econômica de povos nativos mundo afora pelas potências colonialistas europeias, ao longo de quase 300 anos, que resultou na discriminação cultural e racial que caracteriza a ordem social de dezenas de países até os dias atuais. O Brasil não é exceção e a nossa ordem social colonial estabeleceu as bases do preconceito e da discriminação que ainda hoje definem as dificuldades que muitos de nossos patrícios têm de enfrentar para vencer na vida.

A discriminação baseada no preconceito está na raiz de injustiças de toda ordem e até mesmo de guerras, extermínios, expurgos políticos ou meras brigas domésticas ou entre torcedores de equipes esportivas.

Porém, está ao nosso alcance combatermos a discriminação baseada no preconceito. Para tanto, é preciso que individualmente pensemos racionalmente a respeito do incômodo que sentimos em relação às pessoas diferentes de nós. Podemos nos autocondicionar a respeitar a divergência de pensamentos, atitudes e comportamentos. Podemos aprender a ser indivíduos conscientes de nossos pensamentos, que veem na prática da negociação e da tolerância e na convivência harmoniosa a saída para impasses e divergências.

A terapia psicanalítica é um caminho possível nessa direção.

Publicado no Boletim Mensal da Academia Juvenil de Letras de Itajubá, MG,

SIM, EU POSSO!

Barack Obama usou essa expressão, no coletivo, como slogan em sua campanha inicial para a conquista da presidência dos Estados Unidos – “Yes, we can”. E nós também podemos conquistar o que quisermos se tivermos Força de Vontade.

Esse conceito, também conhecido como autodisciplina, autocontrole, determinação, ou simplesmente “garra”, é a habilidade das pessoas de controlarem o seu comportamento, suas emoções e sua atenção. Trata-se de ter foco e concentração para atingir um “objetivo maior”.

Ter Força de Vontade significa dispor de uma energia interior para sermos capazes de resistir a impulsos comportamentais e postergar a obtenção de uma gratificação imediata (ou dela abrir mão), em troca de conseguir atingir aquele objetivo maior.

Dito de outro modo, trata-se de sermos capazes de suprimir pensamentos, emoções ou impulsos, bem como de sabermos nos autorregular. O nível de Força de Vontade que conseguirmos alcançar determinará, por exemplo, se seremos capazes de economizar ao invés de gastar, para criarmos um pecúlio para a nossa aposentadoria, ou para dispormos de uma reserva financeira para enfrentar uma enfermidade ou algum evento fortuito que nos onere. Outro exemplo seria dispormos de Força de Vontade para nos autoimpor um comportamento alterado, visando a atingir uma melhor saúde física ou mental, para abandonar hábitos que nos incomodam, ou superar vícios que quisermos abandonar.

A Força de Vontade é uma energia, mas ao mesmo tempo é um bem escasso. Ela precisa ser gerada e sua geração pode ser muito difícil. Parcela considerável da população não consegue planejar sua vida. Geramos a Força de Vontade com os nossos pensamentos conscientes. O ser humano pensa em alguma coisa em cada segundo das 24 horas de cada dia. Até quando dormimos pensamos, e chamamos esses pensamentos de sonhos. Quando conseguimos nos lembrar conscientemente dos pensamentos que tivermos em determinado período anterior e conseguirmos transformá-los em experiência de vida, incorporamo-los em nosso acervo intelectual. Esse acervo torna-se o banco de dados a que recorremos quando planejamos o nosso “dia seguinte”, ou seja, quando conscientemente estabelecemos os objetivos que queremos alcançar em um período posterior.

O processo precisa ocorrer em estado total de consciência, para que seja racionalmente consistente e exequível. Quando não conseguimos essa realização, perdemos o foco e corremos o risco de nos distrairmos com múltiplos objetivos difusos e de realização duvidosa. Mas, quando conseguimos, mudamos o nosso comportamento e vivemos mais felizes.

A Nação em Depressão Psíquica

Avalio que a nação brasileira está em estado de depressão psíquica. Isso significa que coletivamente a sociedade vive um momento de desesperança extrema.

Somos confrontados diariamente com o “escândalo do dia”, que agrega ao noticiário informações sobre algum suspeito que teria se beneficiado de alguns milhares, milhões ou até bilhões de reais surripiados do patrimônio da nação. O teatro do processo judicial se instala, a começar pela ação das autoridades policiais e judiciais, apimentado pelas delações premiadas e seguido pela negação dos fatos pelos acusados e seus defensores. O fim do espetáculo é ansiosamente esperado, com parcela considerável da população clamando por justiça e assistindo impotente à já ocorrida e agora escancarada deterioração da integridade moral do país.

Mas a vida continua e vemos que as defesas do cidadão contra “tudo isso que está aí” são efêmeras. Há quem acredite que a relação custo-benefício é favorável aos poderosos que cometem crimes contra a sociedade, que parece ser vítima da institucionalização de práticas criminosas em todos os níveis e instâncias de governo.

Em paralelo, a sociedade vive as consequências de equívocos colossais na gestão da economia, que há meses apresenta estatísticas econômicas negativas e declinantes. Centenas de milhares de pessoas perderam e continuam a perder o emprego. O comércio vende consideravelmente menos, resultando em que a indústria reduz ou paralisa a produção e o setor de serviços acusa queda acentuada de faturamento. Os problemas sociais resultantes se agravam e a criminalidade aumenta. A sociedade entra em depressão psíquica, porquanto não sabe como a história terminará e o cidadão, individualmente, não sabe se será uma vítima da situação.

Esse quadro configura um desafio para todos nós. Como fazer para não sucumbir à melancolia, para não sofrer as consequências que se manifestam em sintomas como insônia, fadiga, cefaleia, dores de toda ordem, problemas digestivos ou sexuais, ou na fuga para a dependência química, quando não em comportamento violento ou antissocial?

Vejo um caminho viável na habilidade de nos autoanalisarmos ou de sermos analisados, tornando conscientes os nossos pensamentos que são predominantemente inconscientes. Logrando fazer isso, conseguimos nos imunizar contra o bombardeio de negativismo a que somos submetidos. Conseguimos nos enxergar em termos relativos, isto é, podemos nos ver objetivamente e assim mais facilmente formular ações comportamentais para não sermos vítimas individuais da depressão coletiva da nação.

Publicado no Boletim Mensal da Academia Juvenil de Letras de Itajubá, MG, edição de agosto de 2015

FANATISMO – AMEAÇA SOCIAL PERMANENTE

“O fanatismo é a única saída para as dúvidas que não cessam de provocar a alma do ser humano.”

Paulo Coelho, em seu livro “O Zahir”.

 

Na história da humanidade, o fanatismo religioso, político, étnico, ou simplesmente competitivo, contabiliza centenas de milhões de vítimas – o resultado de duelos entre indivíduos ou de conflitos entre grupos, culminando em guerras, genocídios, extermínios, expurgos e disputas de toda ordem, ainda que manifestos em mera briga de torcidas esportivas.

O fanático, ou seja, o fã extremado, é antes de tudo um narcisista, que busca escapar de sua solidão psíquica elegendo uma causa por objetivo, à qual possa se dedicar radicalmente. Quando consegue socializar na busca dessa causa integra-se às hordas de fanáticos em movimentos sociais como o nazismo, o comunismo, as legiões de combatentes do Estado Islâmico, as agremiações políticas de viés ideológico totalitário, ou tornando-se um guerreiro, e, às vezes, um mártir em alguma “guerra de fé”.

O fanático é teimoso, obstinado, dogmático. Despreza a tolerância e a divergência de opinião, que vê como fraqueza, resignação ou submissão. Exercer a intelectualidade para que resulte no respeito à opinião divergente é inaceitável para o fanático. Não sabe negociar um compromisso. Para ele, tudo é branco ou preto, desgraça ou dádiva, amigo ou inimigo. Não existe nada entre os extremos. O fanático é imune a dúvidas e não sofre de hesitação. Nunca se depara com problemas difíceis porque a solução é um decreto governamental ou a bala de uma arma de fogo. O fanático se impõe pela força e se interessa apenas pelo resultado e não pelo caminho para alcançá-lo. Está disposto a pagar qualquer preço para atingir o seu objetivo, embora prefira que “os outros” paguem esse preço.

À sociedade cabe defender-se dos fanáticos, mas só existe uma maneira de fazê-lo: é combatendo a costumeira indiferença diante das ações empreendidas pelos fanáticos. Isso se consegue através da Educação, do esclarecimento, do exercício pleno da cidadania e do senso crítico, recorrendo à memória para aprender as lições que a História nos ensina. Tarefa árdua, permanente e de sucesso duvidoso, infelizmente.