O que é amar um filho?

Nunca ouvi um pai ou uma mãe dizer que não amasse um filho, mas a prática mostra que muitos pais verdadeiramente não amam seus filhos. Como assim, não amam um filho? Amar um filho não é a “coisa” mais natural do mundo? Não é algo inato? Para responder a essa pergunta, precisamos conceituar do que estamos tratando, porque amar um filho é um conjunto variado e complexo de atitudes e ações.

Quando nasce um filho, o sentimento natural que se espera dos pais é o da bem querência para com essa pessoa. Esse sentimento chamamos de amor paterno ou materno. Assim, o objetivo social ideal dos pais é fazer com que o filho amado se desenvolva para ser uma pessoa de bem na sociedade, para que viva uma vida digna e edificante.

Além desse “amor”, todas as crianças necessitam receber dos pais, desde o nascimento e até o momento de sua emancipação, a clara consciência de quais normas de conduta regerão a sua criação e os respectivos limites a essa conduta. O rompimento aos limites precisa ser punido de forma educadora, mas jamais com violência física, em um ambiente de empatia e respeito mútuos. Essa imposição disciplinar dos pais é a tarefa mais difícil que enfrentam, porque exige deles a habilidade de equilibrar emoções e sentimentos com critérios objetivos e racionais. Iludem-se os pais que pensam que podem terceirizar essa responsabilidade à escola, a instituição cuja função é tão somente a de transmitir conhecimento, ou a pessoas estranhas à família.

Os filhos precisam ter a noção de quem é a autoridade no núcleo familiar. É o pai? É a mãe? São o pai e a mãe conjuntamente, dependendo das circunstâncias? O exercício da autoridade paterna e/ou materna nunca deverá ser autoritário, impositivo. Os pais têm a obrigação de convencer os filhos a seguirem a orientação que querem que seja adotada. Os filhos precisam conhecer o regulamento da família. Quais regras se aplicam ao seu comportamento? Por parte dos pais, é preciso haver coerência na aplicação dessas regras e, em havendo vários filhos, deverão valer igualmente para todos. 

Os pais precisam disponibilizar muito tempo para os filhos. É preciso conquistar a confiança dos filhos, que precisam saber que têm nos pais um “porto seguro” para ancorar quando enfrentarem crises existenciais, quando estiverem doentes, desorientados ou apenas precisando de aconselhamento, de acolhimento. Se os pais negarem esse acolhimento aos filhos, não terão legitimidade para cobrar o respeito dos filhos às normas estabelecidas e verão que os filhos buscarão uma solução para suas angústias no mundo externo, o que embute o perigo do desvio de conduta em más companhias ou a sucumbência às falsas consolações das drogas, do alcoolismo ou da criminalidade.

Ser pai ou mãe não se limita a dar vida a um filho. É preciso ser eficaz no que é uma tarefa árdua de muitos anos. Muitos pais infelizmente não têm a competência de amar um filho nesse sentido mais amplo, que vai muito além da bem querência, e o resultado é que uma parcela considerável da sociedade é constituída de indivíduos “imprestáveis” para uma convivência social edificante.