Escravidão Emocional

A escravidão, uma instituição milenar, foi formalmente abolida na quase totalidade dos países ainda no século 19. É definida como a propriedade de uma pessoa (o escravo) por outra pessoa (o amo), com este tendo o poder de vida e morte sobre o seu patrimônio econômico – o escravo. Sabemos, pelos noticiários, que, esporadicamente, são descobertas pessoas vivendo em “estado análogo à da escravidão”. Essa escravidão pode ser econômica e constitui, então, crime definido em lei, ou pode ser uma escravidão emocional, que se configura como abuso psicológico, muitas vezes de difícil enquadramento e comprovação criminais.

Milhões de pessoas mundo afora são escravas emocionais. Vivem em relacionamentos opressivos, em que são vítimas de seus algozes psicológicos, que podem ser o seu cônjuge, namorado, pai, irmão, chefe, ou qualquer pessoa, homem ou mulher, que exerça um domínio abusivo sobre elas.

Que circunstâncias são o campo fértil para a formação de uma relação opressiva? São quatro: 1. A vítima tem a percepção da existência de uma ameaça, física ou psicológica, e da convicção de que uma desgraça dela decorrente poderá realmente ocorrer; 2. A vítima fica agradecida quando o opressor a agrada com atos eventuais de gentileza, de condescendência emocional, que a tornam mais dócil e obediente; 3. A vítima vive uma realidade de absoluto ou relativo isolamento social; e 4. A vítima tem a convicção de que não pode se libertar de seu opressor.

Quando uma pessoa é a vítima de uma relação opressiva, ela aprende a ter cuidado com o que fala, temendo causar a ira do opressor, que pode resultar em ato de violência física ou verbal. Consequentemente, a vítima procura agradar ao opressor, satisfazendo à sua vontade, a seus desejos, e cumprindo, sem questionar, as ordens ou instruções recebidas do opressor. O opressor, por sua vez, se satisfaz psicologicamente com o poder que exerce sobre a vítima e tende a aumentar cada vez mais o nível de abuso praticado.

A vítima concorda que seja mantida isolada de seu meio social, muitas vezes por sentir vergonha diante da falta de sua combatividade para se libertar. Ela passa a se esconder de todos: família, amigos, colegas, enfim, do mundo. A vítima sucumbe ao que entende ser o “seu destino” e se resigna na sua condição de escravo emocional. O seu espaço de vida passa a ser aquele definido pelo seu opressor, e, para muitas vítimas, essa situação é aceitável porque torna a sua vida previsível.

É comum a vítima não conseguir se libertar de uma relação opressora. Existirão os laços afetivos e emocionais em relação ao opressor, quiçá haverá questões financeiras que inviabilizem uma libertação, aspectos jurídicos, filhos menores que se tornariam vítimas de uma separação, e até mesmo ameaças de morte ou suicídio que poderiam se concretizar se houver o rompimento da relação opressora.

Existe um fenômeno chamado a “Síndrome do Elefante Bebê”. O processo de domesticação de um elefante selvagem começa quando o animal é capturado ainda bebê. Ele é amarrado ou acorrentado, todas as noites, e não consegue se soltar. Acaba se conformando e nunca mais tentará se libertar. Quando adulto, aceita ser amarrado ou acorrentado e nunca tentará romper as amarras que o prendem.

Nós, seres humanos, diferentemente dos elefantes, temos a nossa racionalidade, que nos permite cortar, se quisermos, as amarras de uma relação opressora.

Há 8 considerações sobre como fazer para nos libertarmos:

1.     Acredite em você. Pense grande e sonhe grande. É preciso focar em suas forças conhecidas e trabalhar para superar suas limitações. Evite comparar-se com outras pessoas e não permita que circunstâncias externas determinem o que você pode realizar;

2.     Trabalhe dedicadamente. Faça o que puder fazer e não perca tempo e energia emocional sentindo pena de você mesmo diante das dificuldades. Assuma a responsabilidade por sua vida. Pare de pensar que você é “propriedade de alguém”. A vida não nos dá o roteiro de alcançar o que almejamos - é preciso criá-lo e correr atrás.

3.     Seja positivo. Transforme o negativo em positivo e torne a sua experiência de viver algo construtivo e gratificante. Liberte-se da contaminação pela negatividade. Não se oriente pela opinião de outras pessoas sobre você e não se sinta atingido pessoalmente por ela. Projete o seu futuro e mantenha o foco nele.

4.     Nunca desista. Seja confiante e lute ferrenhamente para alcançar o objetivo traçado.

5.     Seja paciente. Imunize-se contra a corrosão da dúvida que vem com o passar do tempo. Analise e reanalise a situação à medida em que o tempo alterar a realidade.

6.     Não abra mão de manter relações sociais que lhe complementem, que agreguem valor e conhecimento à realização de seus objetivos. Alie-se a pessoas que lhe ajudarão porque veem o seu valor.

7.     Tenha fé em sua capacidade realizadora.

8.     Faça dos livros os seus grandes amigos. Busque aperfeiçoar-se pela leitura, pela expansão contínua do conhecimento.

Essas 8 recomendações podem ser sintetizadas no que chamo de “viver conscientemente”. Quando aprendemos a nos auto enxergar, a detectar o que queremos realizar, quando conseguimos ver o objetivo que queremos atingir e a trajetória para lá chegar, podemos controlar as nossas emoções de incerteza, raiva, inveja, ciúme, ansiedade e angústia, e nos libertar da escravidão emocional auto imposta ou imposta por um opressor. Somos nós, e apenas nós, quem determina a nossa felicidade.