Ninguém Nasce Terrorista

Na história da humanidade, sempre existiram “terroristas”, mas outrora eram chamados de revolucionários, anarquistas, rebeldes ou dissidentes. O moderno conceito de “terrorista” surgiu nos anos 70 do século passado, quando a “Fração do Exército Vermelho” (RAF), na então Alemanha Ocidental, e as “Brigadas Vermelhas”, na Itália, disseminaram o terror, principalmente naqueles países, e cunharam o termo “terrorista”. Seu objetivo político era difuso, genericamente definível como a mudança da ordem social prevalente e a implantação de um modelo social e político alternativo.

Em 1978, o grupo de extrema-esquerda Brigadas Vermelhas sequestrou e assassinou o primeiro-ministro italiano Aldo Moro. 

 

 

 

O terrorismo praticado pelo Estado Islâmico, a organização nascida há poucos anos e que ocupa diuturnamente as manchetes do mundo inteiro, tem uma agenda mais internacional, embora o objetivo também seja de cunho social, apimentado pelo fundamentalismo religioso e ancorado no enfrentamento do “imperialismo” das potências ocidentais.

A moderna Psicologia ainda não definiu qual seria o perfil psicológico típico de um terrorista, mas estudos dos integrantes das agremiações políticas europeias mencionadas acima revelaram comunalidades: muitos dos membros eram oriundos de famílias em que o pai era ausente, ou, quando não ausente, distante do processo de formação familiar dos filhos, sem exercer adequadamente o papel de autoridade paternal. Também eram pessoas que tinham dificuldades em socializar em grupos extrafamiliares, como a escola ou o local de trabalho e, frequentemente, suas famílias viviam em condições econômicas adversas.

Muitos dos recrutas em modernas organizações terroristas encontram nelas campo fértil para satisfazer suas necessidades psicológicas de pertencimento. São suscetíveis a mensagens sedutoras emanadas de líderes carismáticos, como o já eliminado Osama Bin Laden da Al-Qaeda. Sofrem um processo de lavagem cerebral e de fanatização.

O fanático busca escapar de sua solidão psíquica elegendo uma causa por objetivo, à qual possa se dedicar radicalmente. Quando consegue socializar na busca dessa causa, integra-se às hordas de fanáticos em movimentos sociais, como o nazismo, o comunismo, as agremiações políticas de viés ideológico totalitário, ou tornando-se um guerreiro, e, às vezes, um mártir em alguma “guerra de fé”, como a conduzida pelas legiões de combatentes do Estado Islâmico.

Na história da humanidade, o fanatismo religioso, político, étnico, ou simplesmente competitivo contabiliza centenas de milhões de vítimas – o resultado de duelos entre indivíduos ou de conflitos entre grupos, culminando em guerras, genocídios, extermínios, expurgos e disputas de toda ordem, ainda que manifestos em meras brigas de torcidas esportivas.

O fanático é teimoso, obstinado, dogmático. Despreza a tolerância e a divergência de opinião, que vê como fraqueza, resignação ou submissão. Exercer a intelectualidade para que resulte no respeito à opinião divergente é inaceitável para o fanático. Não sabe negociar um compromisso. Para ele, tudo é branco ou preto, desgraça ou dádiva, amigo ou inimigo. Não existe nada entre os extremos. O fanático é imune a dúvidas e não sofre de hesitação. Nunca se depara com problemas difíceis, porque a solução é um decreto governamental ou a bala de uma arma de fogo. O fanático se impõe pela força e se interessa apenas pelo resultado e não pelo caminho para alcançá-lo. Está disposto a pagar qualquer preço para atingir o seu objetivo.

Às sociedades cabe defender-se dos fanáticos, mas só existe uma maneira de fazê-lo: é combatendo a costumeira indiferença diante das ações empreendidas pelos fanáticos. Isso se consegue por meio da Educação, do esclarecimento, do exercício pleno da cidadania e do senso crítico, recorrendo à memória para aprender as lições que a História nos ensina.

Para eliminar o terrorismo, é preciso entender os anseios políticos dos mandatários de organizações terroristas e procurar atendê-los usando a diplomacia para negociar soluções entre posições conflituosas. A guerra sempre foi a consequência da política fracassada e, portanto, deveria ser usada como último recurso, não obstante a indignação universal diante da barbárie em Paris.