PSICANÁLISE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A Psicanálise, conforme conceituada por Sigmund Freud, visa a descobrir no inconsciente e na história de vida de uma pessoa o porquê de algum comportamento que ela preferiria não ter, ou que ela gostaria de mudar. A conscientização sobre a possível ou a provável causa de seu comportamento constitui a “cura” no processo psicanalítico.

Houve época em que fazer psicoterapia era muito mal visto pela sociedade e dificilmente alguém admitia publicamente que estivesse em tratamento. Existia o preconceito generalizado de que a psicoterapia era “para doido”. Ainda hoje existe essa concepção equivocada, embora em menor grau, mas ela resulta em que, em determinadas situações, a terapia psicanalítica ocorra em ambiente privado, como, por exemplo, na residência ou no escritório da pessoa que se submete a tratamento. Tipicamente, um político seria um exemplo de candidato à “terapia em domicílio”, para não ter a sua imagem pública questionada.

Não obstante essa realidade, existe simultaneamente outra situação: a de pessoas que se orgulham de estar em terapia. Para elas, parece até uma questão de status. É “chique” fazer terapia e, de fato, a psicoterapia tem importantíssima finalidade social, na medida em que, quando bem-sucedida, causa mudanças comportamentais nas pessoas, e todos nós sabemos que pessoas tornadas melhores e mais felizes contribuem para o melhoramento da qualidade da sociedade como um todo.

Hoje em dia se faz psicoterapia até em embriões humanos. Essa modalidade terapêutica tem o nome de PSICOEMBRIOLOGIA ou PSICANÁLISE PREVENTIVA PRÉ-NATAL. Resulta no nascimento de bebês psiquicamente mais saudáveis ou menos traumatizados. Esse processo beneficia o bebê e a mãe, preparando-a psiquicamente para vivenciar o nascimento de seu filho de modo emocionalmente mais equilibrado.

A Psicanálise em crianças pré-púberes é uma atividade de alta especialização, baseada na ludoterapia (terapia usando jogos e brinquedos). Portanto, do ponto de vista da idade, não há limitações à utilização da psicoterapia em crianças e adolescentes, cada vez mais numerosos nos consultórios psicanalíticos.

A vida moderna se caracteriza por relações sociais mais instáveis. No Brasil e no mundo em geral, a violência (terrorismo) e a criminalidade se tornaram fatores concretos na maneira como vivemos o nosso cotidiano e, especificamente, como lidamos com os nossos filhos. O terrorismo político e religioso é motivo de preocupação mundo afora, chegando até mesmo a afetar o planejamento de viagens ao exterior. A corrupção multibilionária em nosso país é motivo de depressão coletiva em parcela considerável da sociedade brasileira e reflete-se nas atitudes individuais dos cidadãos. 

A harmonia familiar é cada vez mais difícil de ser alcançada, em parte porque, na era das comunicações globalizadas, as pessoas desaprenderam a dialogar umas com as outras. Os pais se separam – e estabelecem novas relações - com muita facilidade, e a fragilidade de muitas das relações familiares tem como consequência o comportamento alienado dos filhos, que apresentam sintomas de transtornos de toda ordem.

Entre esses fatores, incluem-se a insegurança causada pela separação dos pais (dos biológicos ou dos pais sociais, que são os parceiros em novas uniões conjugais dos pais biológicos), a hiperatividade, medos e traumas de todo tipo, como, por exemplo, a síndrome do pânico, problemas de aprendizado na escola, com déficit de atenção, e o consequente baixo rendimento escolar, além, evidentemente, da chamada alienação digital. Outro sintoma da inadequação dos jovens à vida moderna é o alto consumo de drogas, tanto as lícitas quanto as ilícitas.

Para finalizar, menciono 10 aspectos comportamentais que permitem aos pais constatarem a necessidade de psicoterapia para os filhos (fonte: Veja São Paulo, 21 de maio de 2014):

  • Agitação – a criança mostra alto grau de ansiedade ou quebra objetos intencionalmente;
  • Agressividade – a criança grita, esperneia, bate e protagoniza birras;
  • Alimentação – a criança passa a comer mais ou menos que o normal;
  • Aprendizado – a criança tira notas baixas e tem queda no rendimento escolar;
  • Comunicação – a criança não consegue contar uma história do começo ao fim, ou explicar como foi o seu dia;
  • Depressão – a criança chora mais e fica de mau humor ou irritadiça;
  • Alienação – a criança tem dificuldade de prestar atenção; 
  • Medos – a criança apresenta fobias sem motivo aparente;
  • Socialização – a criança tem dificuldade de fazer amigos e de se relacionar em grupo;
  • Sono – a criança urina na cama (fora da idade em que isso é normal), range os dentes ou tem pesadelos.

As crianças de hoje são mais mimadas porque os pais têm menos tempo para conviver com seus filhos. Tentam compensar a sua ausência sendo permissivos, não impondo limites ou proibindo ações dos filhos que jamais poderiam ser permitidas. O resultado é uma geração que vivencia um “tédio social”, uma alienação e uma rebeldia social na idade adulta que compromete o nível de harmonia da sociedade como um todo.