“...o preconceito nosso de cada dia nos tirai hoje...”

Poderíamos rezar a oração hipotética pertinente para pedir à Força Divina que nos livre do preconceito que vivemos cotidianamente.

Ter preconceito é inato ao ser humano. É definido como atitude injusta, intolerante e potencialmente danosa quando convertida em ação discriminatória em relação a um indivíduo ou grupo de indivíduos. Muitas vezes, o preconceito é inconsciente e como parcela considerável da humanidade vive “ao Deus dará”, não usando o cérebro para raciocinar autonomamente, muitas pessoas se deixam levar por movimentos sociais discriminatórios e até irracionalmente fanáticos.

O preconceito é o prejulgamento de semelhante nosso porquanto ser humano, que, no entanto, é diferente de nós por possuir características reais ou imaginárias que rejeitamos, baseado em algum estereótipo social. Um estereótipo é definido como generalização de características existentes. Por exemplo, poderíamos dizer: “não gosto de políticos porque são desonestos”. A desonestidade é, então, o estereótipo social que passamos a aceitar como verdadeiro, internalizando-o como preconceito. Outro exemplo é a homofobia, a rejeição de pessoas com orientação sexual diferente daquela da maioria da população, ou ainda, de pessoas em razão de seu país de origem, cor de pele, fé religiosa, ou qualquer outro critério.

O preconceito transformado em ação social discriminatório pode resultar, e tem resultado, nas maiores barbaridades cometidas pelos seres humanos, figurando aí o chamado holocausto, o sistemático extermínio de um grupo social/religioso/étnico durante a 2ª Guerra Mundial, ou a subjugação cultural e econômica de povos nativos mundo afora pelas potências colonialistas europeias, ao longo de quase 300 anos, que resultou na discriminação cultural e racial que caracteriza a ordem social de dezenas de países até os dias atuais. O Brasil não é exceção e a nossa ordem social colonial estabeleceu as bases do preconceito e da discriminação que ainda hoje definem as dificuldades que muitos de nossos patrícios têm de enfrentar para vencer na vida.

A discriminação baseada no preconceito está na raiz de injustiças de toda ordem e até mesmo de guerras, extermínios, expurgos políticos ou meras brigas domésticas ou entre torcedores de equipes esportivas.

Porém, está ao nosso alcance combatermos a discriminação baseada no preconceito. Para tanto, é preciso que individualmente pensemos racionalmente a respeito do incômodo que sentimos em relação às pessoas diferentes de nós. Podemos nos autocondicionar a respeitar a divergência de pensamentos, atitudes e comportamentos. Podemos aprender a ser indivíduos conscientes de nossos pensamentos, que veem na prática da negociação e da tolerância e na convivência harmoniosa a saída para impasses e divergências.

A terapia psicanalítica é um caminho possível nessa direção.

Publicado no Boletim Mensal da Academia Juvenil de Letras de Itajubá, MG,